21 setembro 2012

Poesia da essência.



(…)
- Não se pode calcular a solidão que vive esse povo – dizia ela n’um protesto quase desprovido de som.
- Veja bem, Maria, estamos juntas.
- Não é dessa forma que eu falo, Marília, as pessoas não as têm.
- Ter quem?
- Umas as outras.
- Ninguém é de ninguém, Maria.
- E a poesia, Marília? Fica incompleta.
- Que poesia?
- A poesia de ser. Da vida, do amor…
- Pra amar não precisa de poesia, guria. Pedro me ama e nunca fez poesia pra mim, e nem por isso me ama menos.
- Não é desse tipo de poesia que falo. É a poesia da essência. Aquela que é composta pelas estrofes do outro.
- Deixe isso para os poetas, Maria.
- A poesia é loucura – disse fitando um pássaro que planava perto do casebre.
- Eu sei disso. Poesia não enche barriga.
- Mas enche a vida.
- Nada é eterno.
- Amor é.
- Até ele encontrar outra e te dar um belo chute no traseiro.
- Um certo moço me disse que amor não precisa de destinatário, e sim de remetente.
- Por que seus olhos brilham?
- É a minha poesia fluindo em mim.
- Está apaixonada?
- Sempre estive.
- E nunca me contou?
- Essas coisas a gente não conta, só sente.
- Estranha! Mas mudando de assunto, quando pretende prestar vestibular?
- Quando Deus quiser.
- Não tem planos? Metas pra sua vida?
- Deixe-me ser antes de fazer.
- Desde quando você começou a ficar assim?
- Assim como?
- Estranha.
- Desde quando descobri minha alma.
- A alma é uma metáfora.
- Apenas pra quem não a tem.
- Primeiro uma crítica às pessoas dizendo que elas são solitárias, depois coisa de poesia, agora de alma…
- As pessoas solitárias não sentem a poesia da alma. Não sabem ser.
- Isso não é coerente.
- A razão pode ser de vocês, mas a esperança é minha.
- Louca!
- Vocês me chamam de louca, mas não percebem que sou apenas feliz.


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